Religião ou Evangelho?

por | ago 9, 2016 | 0 Comentários

“Naquela ocasião os chefes dos sacerdotes e os líderes religiosos do povo se reuniram no palácio do sumo sacerdote, cujo nome era Caifás, e juntos planejaram prender Jesus à traição e matá-lo.” (Mateus 26.3-4)

Jesus foi um homem manso, mas despertou profundas inimizades. Pessoas alimentavam um ódio mortal contra ele. O que impressiona é que não eram as prostitutas, nem os corruptos cobradores de impostos, nem os impiedosos soldados romanos, nem os heréticos samaritanos que desejavam acabar com Jesus. Tais intentos assassinos vinham do centro do poder religioso de Israel. A prisão e a morte de Jesus foram arquitetadas em mentes piedosas e profundamente religiosas. Note que o versículo acima cita os chefes dos sacerdotes e os líderes religiosos reunidos com o sumo sacerdote (o maior na hierarquia religiosa do Judaísmo) para planejarem juntos a execução de Jesus.

Há algo fundamental que todos nós precisamos compreender: religião é uma coisa; evangelho é outra. O evangelho é a boa notícia de que Deus se mostrou favorável aos homens, enviando seu único Filho, Jesus Cristo, para resgatar das trevas todos aqueles que nele cressem. Religião é o que sobrou do evangelho: normas, doutrinas e costumes de homens. A religião é a institucionalização daquilo que um dia foi uma mensagem livre e de vida. Na religião, o evangelho gradativamente passa a existir apenas como discurso. A religião não gera filhos do Reino, mas “soldadinhos de chumbo” daquela sigla religiosa, condicionados a certos comportamentos e costumes pré-definidos. Ser filho de uma destas instituições, portanto, é assumir os estereótipos impostos por ela, como se tivesse que carregar um rótulo que identifique a “marca religiosa” do indivíduo.

A tragédia é que as pessoas vivem na religião, mas afirmam ter-se convertido ao evangelho. Sabem tudo sobre doutrina, mas nada sobre a vida abundante que Jesus prometeu (Jo 10.10). Toda experiência de Deus que tiveram permanece num nível superficial, quem sabe até altamente emocional, mas ainda superficial. É como se chegassem sujos, maltrapilhos e mal cheirosos e a religião lhes desse o seu uniforme para vestir, mas sem lhes dar um banho primeiro. O resultado disso é terrível: a pessoa se adéqua exteriormente ao formato daquela denominação, mas interiormente se enraízam as taras, as paixões desenfreadas, os conflitos não resolvidos que vão sendo sufocados por medo de rejeição ou culpa. Até que o indivíduo não suporte mais e “cai no mundo”, escandalizando até os mais “mundanos” com sua dissolução.

A grande maioria dos “desviados” que conheço não se desviaram do evangelho, mas da religião. A pulsão desenfreada que os arrastou à aventuras afins foi gerada pelo próprio legalismo da religião. Estes ainda são mais sinceros do que aqueles que se decidiram pelo cinismo dos fariseus: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Lembre-se: Jesus veio pregar o evangelho, mas foi preso e morto pela religião. Não confunda as duas coisas. O evangelho traz cura para a alma; a religião é uma fábrica de neuróticos. O evangelho leva-nos a uma profunda transformação; a religião pinta-nos de cal e cola um rótulo em nossas testas. O evangelho liberta; a religião é a prisão da culpa, do medo, da chancela de líderes ávidos por poder e dinheiro. O evangelho é a mensagem de salvação de Deus ao mundo; a religião é a meia-verdade do diabo para a perdição de todo o que nela crê.

Se você tem ouvidos, ouça!

Daniel Schorn

Pastor luterano há dezoito anos, é casado com a Betina e pai do Nicolas e da Rebeca.

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